Almack’s: ele pode não ser o que você pensava!

Almack’s.

O nome conjura em nossas mentes imagens de bailes com mulheres em seda elegante e homens vestidos de maneira formal, todos dançando juntos. A realidade, apesar da forma como o clube é retratado na ficção, era um pouco diferente.

O Almack’s ficava localizado na King Street, em St. James. Os salões foram inaugurados em 1764 por um escocês de nome MacCall que, segundo alguns, decidiu nomear o lugar com um anagrama aproximado de seu nome.

Existia um grande salão de baile (30m x 12m), decorado com colunas e pilares dourados, emblemas clássicos e espelhos bem grandes. No final do período regencial (1814/1815), o salão era iluminado a gás.

Havia uma sacada atrás do local onde uma pequena orquestra se posicionava. Refrescos eram deliberadamente medíocres: limonada fraca (ou também orchata e ratafia), biscoitos, pães velhos e manteiga (embora nunca servissem bons vinhos ou outras bebidas alcoólicas dentro do salão, muitos cavalheiros já chegavam bêbados). Havia, também, um estrado (um assento levemente levantado) do outro lado do salão, onde as Patronesses sentavam e cumprimentavam os convidados que chegavam.

Os bailes aconteciam uma vez por semana, nas noites de quarta-feira, durante um período de doze semanas (a temporada londrina). Até 1814, apenas danças campestres eram permitidas. Depois, quadrilhas e valsas foram introduzidas para animar as reuniões. Ninguém era admitido após as 23h, mas frequentemente as danças continuavam até o amanhecer de quinta-feira.

A partir de 1801, o “uniforme” exigido para os cavalheiros era o “look” que ficou famoso em razão de George Brummel: um casaco preto, gravata preta ou azul escura, calças pretas e meias de seda (ou calças compridas com sapatos de dança) e chapéu. Calças diferentes ou qualquer cor nas peças de roupa não eram admitidas e quem estivesse vestido de forma inadequada era barrado na entrada.

Para entrar no salão de baile, a pessoa precisava de um ingresso (voucher), que era vendido na Bond Street. O custo? A taxa de associação do Almack’s custava 10 guinéus (algo em torno de 350 libras atualmente). Depois disso, a pessoa deveria adquirir o ingresso pelo valor de 10 xelins (17 libras nos dias de hoje). Mas esses vouchers só estavam disponíveis para as pessoas que tivessem seu nome na lista.

Um autêntico voucher do Almack’s (imagem: The Huntington Library, San Marino, CA)

O Almack’s do início do século XIX era um clube muito exclusivo – e comandado por mulheres. E não por quaisquer mulheres. Eram ladies de bom nascimento, boa fortuna e uma boa quantidade de esnobismo. Elas eram as patronesses.

Em 1812, eram essas:

Lady Emily Cowper: filha do conde e da condessa de Melbourne. Em 1814, era amante de lorde Palmerston e depois tornou-se esposa dele. Irmã de William Lamb e, portanto, cunhada de lady Caroline Lamb – que era sobrinha do duque e da duquesa de Devonshire e filha do conde e da condessa de Bessborough.

Lady Jersey: esposa do 5º conde de Jersey, neta de Robert Childs, um banqueiro, e uma herdeira. Irmã do 11º conde de Westmorland (e, sim, o apelido dela era “silêncio” por que ela nunca calava a boca).

Lady Castlereagh: esposa do visconde Castlereagh (depois marquês de Londoderry) e filha do 2º conde de Buckinghamshire.

Sra. Drummong Burrell: esposa do notável dândi que recebeu um título. Eventualmente ela se tornou lady Gwyndry e, depois, lady Willoughby de Eresby.

Lady Sefton

Princesa Esterhazy: esposa do embaixador da Áustria.

Condessa Lieven (depois de 1814): esposa do embaixador da Rússia.

Em caráter extraoficial, até ele ser obrigado a fugir do continente para escapar de seus credores, o Sr. Brummel tinha uma grande influência sobre quem seria admitido ou não no Almack’s. E é provavelmente essa discricionariedade daqueles que tinham o poder de incluir ou excluir as pessoas que diz mais sobre o Almack’s. Por que, embora política (e sexo, levantes e guerra) fossem assuntos proibidos dentro do salão, as patronesses eram mulheres no auge do poder político e possuíam influência e riqueza – não apenas no Reino Unido, mas em toda a Europa.

Entre elas, elas pesavam e examinavam toda a classe média e a nobreza do Reino Unido. E, na maioria dos casos, acabavam por desaprová-los. Provavelmente, três quartos da aristocracia britânica não obteve aprovação para entrar no clube. Riqueza não era garantia de entrada. Nem nascimento. Uma boa aparência e alguns talentos podiam ajudar. Dançar bem, especialmente se fosse homem, era um requisito de prioridade.

De acordo com o capitão Gronow em suas memórias da Regência: “Frequentemente, pessoas que possuíam um rank e fortunas compatíveis com a admissão eram excluídas pelo coquetismo das patronesses. A administração do Almack’s era um puro despotismo e estava sujeita aos caprichos das administradoras déspotas”.

O major Chambre, em suas memórias, escreveu sobre as regras de admissão: “Nenhum nome de nenhuma mulher ou de nenhum cavalheiro poderia permanecer na lista da mesma patronesse por mais de um rodada de bailes. Os ingressos eram intransferíveis – e nem mulheres e nem cavalheiros poderiam pedir ingressos para seus amigos. Mães não podiam ceder suas entradas para uma filha e nem irmãs podiam ceder as suas para irmãs não-casadas. Membros que não pudessem comparecer deveriam avisar à patronesse no dia do baile com alguma antecedência (para que outra pessoa pudesse ser convidada)”.

Além disso, ter seu nome na lista em um ano não significava, necessariamente, que seu nome iria permanecer ali para o ano seguinte. Frequentemente, também, as patronesses permitiam a entrada de algumas mulheres, mas não permitiam que seus maridos as acompanhasse. Ou vice-versa. (Normalmente ocorria quando alguém havia casado com alguém socialmente inferior).

Fachada do Almack’s (imagem do museu de Londres)

Em resumo, o Almack’s era um lugar que existia para a procura de sexo e casamento – e tais alianças eram baseadas em propriedades, dinheiro, influência política e prestígio. Não era sobre casamento por amor.

Em uma linguagem Austeniana (embora a própria Jane Austen nunca tenha feito menção a isso), o Almack’s era um lugar onde Georgiana Darcy poderia ser apresentada a cavalheiros elegíveis, sem que seu irmão ou seus tutores precisassem se preocupar se ela encontraria um caçador de fortunas ou canalhas como Wickham. Da mesma forma, esses mesmos cavalheiros elegíveis teriam certeza que Georgiana tinha sido admitida pelas patronesses, que ela possuía a fortuna que diziam e que era bem-nascida.

Para aqueles que gostam de Downton Abbey, se eu puder dar um outro exemplo, Almack’s provia o lugar onde a lady Mary Crawley daquele tempo poderia encontrar um bom partido para formar uma aliança.

Era um ambiente cheio de fofocas, música, danças e tensão sexual reprimida, talvez, mas, acima de tudo, era um lugar onde os muito ricos e muito poderosos festavam e reinavam supremos.

Nas palavras de Gronow: “O Almack’s era o sétimo paraíso do mundo elegante”.

Fonte: English History Authors, através de M. M. Bennetts

A imagem em destaque foi retirada do blog Regency Reader.

Postado por: Roberta Ouriques

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