A criadagem no tempo de Jane Austen

Vamos supor que você acabou de se casar e precisa contratar um batalhão de criados para deixar a enorme mansão em que você irá viver em ordem (podem supor, assim, só para ilustrar mesmo, que eu acabo de me casar com Wulfric Bedwin rs):

Quantos criados seriam necessários? Isso variava muito. Aristocratas cheios da grana mantinham algo em torno de trinta a cinquenta criados; os proprietários de terra mais abastados (Mr. Darcy, I presume) precisavam se conformar com dez ou vinte. Aliás, para poder se dar ao luxo de ter um criado, a pessoa tinha que receber pelo menos cem libras ao ano. Com quatrocentas libras ao ano, seria possível contratar um cozinheiro, uma governanta e, talvez, um lacaio.

E quais eram os empregados essenciais? Difícil dizer, já que esse “essencial” podia mudar de família para família. Mas tomando uma família mais abastada como exemplo, podemos dizer que eram os seguinte: mordomo, governanta, valete, criada pessoal, lacaios, empregadas domésticas, camareiras, babás, cozinheiro/a, assistentes de cozinha, cocheiro, cavalariço e postilhão.

E aí vinha a parte complicada: precisava-se saber onde contratar, quem contratar, como contratar, por quanto contratar… Existiam muitos manuais para ajudar nessas horas, mas pode ter certeza que ao finalizar esse post (ou essa série de posts) você estará apto para voltar no tempo e comandar uma casa de campo do tamanho da Casa Branca rs. Vamos lá?

 CONTRATANDO A EQUIPE

Para começar: existia uma crença de que as criadas naturais de Londres não eram confiáveis. Ou seja, muitos empregadores procuravam seus empregados quando estes vinham do campo para a cidade atrás de emprego, ou mesmo em feiras com esse fim específico (essas feiras geralmente aconteciam em maio e em setembro). Aliás, as famílias aristocráticas, e também as mais ricas – embora não fizessem parte da nobreza, preferiam empregados que viessem de longe. O motivo? Eles precisariam ‘cortar as relações’ com sua própria comunidade.

A contratação podia se dar, ainda, através de anúncio na imprensa, escritórios que ofereciam funcionários (o mais respeitável ficava na rua Pall Mall, nº 10, em Londres) ou através da recomendação de algum conhecido. No interior, era comum que os pais acertassem os detalhes do serviço de seus filhos, especialmente o salário, mas outros assuntos podiam ser combinados, como doses diárias de chá, açúcar e cerveja.

Segundo ponto: a mulher atuava em nome do marido, mas eram os homens que tinham a responsabilidade pelos criados. Ou seja, a autoridade máxima quando o assunto era a criadagem era ele. Contudo, nem a mulher e nem o homem tinham muita participação na escolha dos criados: normalmente a governanta escolhia as funcionárias do sexo feminino e o mordomo escolhia os funcionários do sexo masculino.

Uma das maiores preocupações na hora de contratar um novo funcionário era a honestidade. Essa preocupação era tanta que manuais sobre atividades domésticas sugeriam que as referências de futuros criados fossem coletadas pessoalmente ao invés de serem recebidas através do correio. E tem mais: em 1792, uma lei foi aprovada para evitar a “falsificação de caráteres” dos criados. Nos termos dessa lei, qualquer pessoa que fornecesse uma avaliação falsa de caráter de algum criado, fosse pessoalmente ou por escrito, sabendo que esse criado teve problemas com desonestidade no passado, com bebida ou algum defeito similar, seria multado em vinte libras e dez xelins. Verdade seja dita, era uma lei pouco eficaz, mas serve de ilustração da preocupação que existia, afinal, a criadagem geralmente se mudava para a casa dos patrões.

Mas é claro que cada família possuía suas próprias necessidades (ou vontades). Por exemplo, uma família que não pudesse arcar com os salários dos criados, podia pedir um aprendiz para a paróquia – esse aprendiz trabalharia por nenhum ou pouquíssimo salário. Por outro lado, famílias ricas e exigentes, principalmente nas áreas rurais, já deixavam claro que seus funcionários precisavam ser capazes de “suportar confinamento” e “gostar de ficar em casa”.

Quando havia alguma festa ou algum entretenimento de maior porte, criados extras precisavam ser contratados. Podia ser que a pessoa ‘emprestasse’ criados dos amigos (da mesma forma que emprestava prataria e louça).

E QUANTO AOS SALÁRIOS?

Importante estabelecer, antes de tudo, que o salário não compreendia apenas o valor monetário estabelecido entre empregador e empregado. Por vezes, o salário incluía também, embora essa lista não seja taxativa, gastos com chás, bônus quando os criados iam pagar as contas dos patrões e até mesmo as roupas usadas que os criados ganhavam dos empregadores. Ainda, era comum que os funcionários recebessem gorjetas (normalmente de um xelim) e isso ajudava bastante com os ganhos totais.

E alguns fatores influenciavam diretamente nos salários, por exemplo:

1) O sexo: homens ganhavam mais do que as mulheres. Lacaios, por exemplo, recebiam vinte libras ao ano. As empregadas do sexo feminino geralmente ganhavam entre onze e quatorze libras ao ano (isso que, em alguns lugares, o salário era ainda mais baixo e as criadas recebiam cerca de oito libras ao ano). Criadas temporárias recebiam dois xelins por semana.

P.s: Esses valores dizem respeito às empregadas de menor ranking entre a criadagem criadagem. As criadas pessoais, a governanta, a cozinheira, possuíam um salário diferenciado.

2) A altura: homens mais altos eram considerados imponentes e por esse motivo criados que ultrapassassem os 1,77m recebiam o dobro do salário.

3) A idade: criados mais jovens recebiam menos do que os mais velhos ou mais experientes.

4) A posição: os criados que eram chamados por seus sobrenomes recebiam o dobro do que os outros criados, por ex: mordomo, governanta, valete, criada pessoal. Mas lembrando: os valetes e as criadas pessoais não ganhavam nem metade do que um mordomo e uma governanta.

Para lembrar: os criados que exerciam função de supervisão eram chamados pelo sobrenome. Criados que eram supervisionados eram chamados pelo nome de batismo (eu costumo lembrar de Downton Abbey para sanar as dúvidas).

5) A função: o cocheiro, que normalmente tinha um quarto acima dos estábulos, ganhava um pouco menos do que o jardineiro, por exemplo.

Quando os empregadores não estavam em casa, os funcionários que ficavam recebiam um “salário-alimentação” – era assim para assegurar a economia e evitar que os criados recebessem amigos, familiares, etc. E mesmo nesses casos, os homens recebiam mais do que as mulheres. Em 1814, as governantas recebiam quatorze xelins por semana como salário-alimentação, enquanto os empregados do sexo masculino recebiam dez xelins, e as empregadas do sexo feminino recebiam oito xelins cada (essa é uma média para as casas de campo); em Londres o salário era um pouco maior, devido ao alto custo de se viver na cidade.

E AS ACOMODAÇÕES?

Além de pagar o salário, os empregadores precisavam disponibilizar vestuário, alimento e acomodação para seus criados.

Essas acomodações variavam muito de casa para casa. Em algumas casas, os criados dormiam no porão e as criadas dormiam no sótão. Em outras, havia uma ala especial só para os quartos dos criados. Podia ser também que os criados tivessem que dormir em quartos localizados nos estábulos ou em outros locais fora da casa principal. Em casas menores, os criados dormiam onde conseguiam.

Importante ressaltar que a maioria das acomodações dos criados não possuía lareiras!

Com a implementação do sistema de sinos para chamar um criado, a necessidade de proximidade entre patrão/criado se extinguiu, ou seja, criadas pessoais e valetes não precisavam mais dormir perto de seus empregadores.

Os criados de fora geralmente viviam em chalés da propriedade, mas alguns deles ficavam por perto (normalmente acima dos estábulos), como os cavalariços, os cocheiros, os postilhões (que entregava as cartas a cavalo), etc.

Nas grandes casas, os criados tinham suas próprias salas de refeições, e em algumas dessas casas até mesmo os funcionários eram divididos de acordo com o ranking. Por exemplo, o mordomo, a governanta, o valete e a criada pessoal da lady da casa comiam em uma sala; o resto dos criados fazia suas refeições na cozinha, junto do cozinheiro/a e seus assistentes. Em casas menores, empregados comiam na companhia de seus empregadores ou na cozinha.

E o que eles comiam? Muitas vezes os restos dos jantares elaborados de seus patrões! Para acompanhar, cerveja (embora, em algumas casas, os funcionários de maior ranking pudessem comer com vinho).

AS CRIADAS

A maioria das criadas era adolescente ou estava no início dos vinte anos; além disso, eram pobres e órfãs. Isso fazia com que elas temessem a vida nas ruas mais do que temiam seus próprios patrões, e esses elas tinham real motivo para temer. Muitos casos de abuso sexual aconteciam, e muitos filhos ilegítimos de criadas eram, provavelmente, filhos dos patrões também.

 Aliás, a gravidez era demissão na certa! Independente de quem fosse o pai. Poucos patrões se compadeciam e aceitavam a funcionária de novo após o nascimento do bebê.

O principal ponto, aqui, é que havia diferenças entre as criadas. Enquanto algumas apenas limpavam a casa e mantinham as lareiras acesas, havia outra classe de empregadas que trabalhava cozinhando, lavando a louça, varrendo e esfregando o chão, lavando roupa, esvaziando os penicos, carregando peso, etc… e ganhando menos, é claro.

Em comum, as criadas pagavam por suas próprias roupas (o valor, equivalente a cerca de seis meses de salário, normalmente era deduzido do pagamento). Essas roupas eram ‘meio que’ uma forma de investimento, já que as criadas podiam usar em seus dias de folga. Além disso, boas roupas ajudavam a conseguir emprego em casas melhores e até a encontrar bons maridos (e considerando que, para a maioria das moças, esse emprego não era exatamente uma carreira, mas sim um meio de se sustentar até que tivessem economizado o bastante para casar ou viver em algum lugar, esse era um bom investimento).

 As criadas não usavam uniformes – pelo menos até o meio do século. Ainda assim, esperava-se que elas estivessem limpas e respeitáveis.

As roupas normalmente eram escuras.

O casamento, na verdade, era praticamente a única saída da vida no serviço. A maioria das criadas, por esse motivo, guardava boa parte do salário para usar como dote, posteriormente. Algo entre cinquenta e cem libras era o suficiente para um trabalhador em busca de uma esposa.

As empregadas domésticas

No inverno, a primeira tarefa das empregadas domésticas era limpar as lareiras e acender o fogo, enquanto no verão deviam cuidar do fogão. As persianas eram abertas nos quartos, e as cinzas das lareiras, bem como os carpetes eram varridos. Elas, ainda, precisavam passar pano nas cadeiras e em outros móveis, e encher baldes de água – tanto para cozinhar quanto para higiene dos patrões. P.s: Todas essas tarefas precisavam ser finalizadas antes dos patrões descerem para o desjejum.

Assim que os patrões descessem para o café da manhã, a empregada subia para abrir as janelas dos quartos e descobrir as camas para que ‘pegassem um ar’ (era bom para evitar pulgas). O jogo de cama era trocado uma vez por semana; a limpeza do dossel e da cabeceira também era feita semanalmente.

As camareiras

Quando havia camareiras, suas funções se limitavam basicamente ao quarto: limpar, tirar pó, matar insetos durante o verão, acender a lareira e aquecer as camas no inverno, etc.

A criada pessoal

A criada pessoal, que respondia somente a sua patroa, tinha por função ajudar na toilette, vestir a patroa e cuidar das roupas dela. Além disso, ganhava mais do que as outras criadas. Se a patroa estivesse doente, a criada pessoal administrava os remédios. Na ausência da governanta, a criada pessoal da dama da casa podia ser chamada para servir chá para convidados na sala de estar.

A maioria das criadas pessoais ganhava roupas usadas todos os anos – elas podiam usar ou vender.

Criadas pessoais que tivessem talento para penteados eram uma ‘pérola rara’.

Se não fosse francesa, esperava-se que uma criada pessoal soubesse algumas frases em francês.

Diferentemente dos outros empregados, as criadas pessoais recebiam diretamente da patroa (e não do mordomo ou da governanta).

A governanta

Era a governanta que contratava, supervisionava* e despedia outras funcionárias. Outras funções da governanta: comprar comida, velas e outras necessidades; manter um registro das contas da casa; manter consigo as chaves da casa; deixar a casa sempre pronta para receber seus habitantes. Em casas grandes, a governanta podia, ainda, aumentar seu salário servindo de guia para visitas à propriedade. Em casas mais modestas, as funções de governanta e cozinheira podiam ser exercidas pela mesma pessoa.

As governantas (geralmente) eram parentes pobres: as tias viúvas ou primas solteironas.

A governanta não supervisionava as criadas pessoais, as babás e a cozinheira, pois estas respondiam às suas patroas diretamente.

Junto com a cozinheira, a governanta devia preparar todos os remédios caseiros necessários para o tratamento de doenças.

A governanta fazia uma ronda noturna para verificar se as portas e janelas estavam fechadas, se os fogos das lareiras estavam seguros e para apagar velas ou lamparinas que ainda estivessem acesas (essas tarefas podiam ser feitas também pelo mordomo, por um lacaio ou por um valete).

A governanta nunca viajava com os patrões.

A cozinheira

Em verdade, os cozinheirOs eram os preferidos. Mas, na impossibilidade de se contratar um cozinheiro/chef, uma cozinheira treinada por um homem era a próxima na lista de preferências (se um deles fosse francês, melhor ainda).

As criadas da cozinha

Essas eram as empregadas de menor ranking, designadas aos trabalhos na cozinha e na despensa.

A primeira criada da cozinha ajudava o cozinheiro/a. Ela cuidava das carnes assadas e cozidas, e também cozinhava todo o básico, incluindo o preparo de pudins. Era ela, ainda, que fazia a comida dos criados e do berçário. Em algumas casas, ela fazia o molho para as refeições da família.

A segunda criada da cozinha cortava e limpava os vegetais, depenava e amarrava as aves, cortava as carnes, limpava os peixes, e realizava boa parte desse trabalho em um cômodo que ficava ao lado da cozinha. Ela arrumava a mesa para a refeição dos criados e, em algumas casas, assava os pães.

A criada que ficava com as piores funções era a ‘empregada de copa’, responsável por lavar toda a louça e ajudar, quando necessário, a segunda criada de cozinha com as carnes.

 OS CRIADOS

Em 1777 foi estabelecido um imposto de um guinéu por cada criado do sexo masculino (homens solteiros pagavam o dobro do imposto). Então, como era possível contratar duas criadas pelo valor de um criado, as funções dos homens eram mais ‘evidentes’, para mostrar o status da família (ex: atender a porta, servir o jantar).

Os patrões pagavam pelas roupas dos criados (eram dois conjuntos de roupas por ano – um em abril e um em outubro). Os criados pagavam pelas meias de algodão ou de lã, pelas botas e sapatos. Se precisasse de meias de seda, seu patrão fornecia.

Para criados ‘de fora’, era comum, especialmente em grandes propriedades, que os patrões cedessem algum chalé para o criado (isso já ficava especificado no momento da contratação).

Os criados tentavam guardar seus salários para começarem outras carreiras como lojistas, atendentes de tavernas, estalajadeiros, etc.

Os mordomos, os valetes e os camareiros eram os criados de maior ranking e não precisavam usar uniforme.

Homens negros ‘sugeriam’ que o patrão tinha bons investimentos no exterior.

A aparência era de extrema importância na contratação de mordomos, lacaios e cocheiros.

Registros apontam que as mulheres da classe média tinham dificuldades para lidar com criados adultos. Essas mulheres não possuíam a ‘aura’ das ladies de nascimento que ‘afastavam’ a inferioridade feminina. Por isso, os criados passavam boa parte do tempo trabalhando fora de casa, longe de supervisão direta.

No início do século XIX, estava na moda contratar jardineiros escoceses.

Uma das primeiras coisas que o sexto duque de Devonshire fez quando assumiu o título, em 1811, foi aumentar o salário de alguns dos criados: o salário do mordomo foi de sessenta para oitenta libras ao ano; dos lacaios de vinte e cinco para trinta e cinco libras ao ano; do chefe dos cocheiros de cinquenta para sessenta libras ao ano; e dos cocheiros de vinte e cinco para trinta e cinco libras ao ano.

O mordomo

O mordomo cuidava das contas da casa, supervisionava os criados e cuidava do vinho*, das louças, da prataria e das velas.

As roupas apropriadas para o mordomo eram:

  • para trabalhos pesados: uma jaqueta azul ou de outra cor escura, e calças da mesma cor. Um boné para afastar a poeira do cabelo. Um avental.
  • no café da manhã: colarinho e gravata limpos e claros, jaqueta, avental de linho branco e sapatos limpos.
  • para o jantar, durante o inverno: casaco azul, calças azuis de caxemira e um colete amarelo de caxemira.
  • para o jantar, durante o verão: três trocas de roupas claras, pois estas devem ser trocadas três vezes durante a semana. Bombazina preta é sempre preferível.

*Era trabalho do mordomo servir o vinho e cuidar dos decantadores e dos copos.

Os valetes

Os valetes deviam deixar seus patrões impecáveis (barba feita, roupa em excelente estado, corte de cabelo, etc). Era desejável que o valete soubesse dar nós elegantes nas gravatas.

Os cocheiros

Apenas aquelas pessoas que podiam arcar com os custos de mais de quatro criados contratavam cavalariços. Na maioria das vezes, o cocheiro fazia todo o serviço.

Os cocheiros recebiam bem porque os cavalos e as carruagens eram muito caros para serem deixados nas mãos de funcionários inexperientes. Como os mordomos, eles eram chamados pelo sobrenome, mas diferente dos mordomos, os cocheiros usavam uniforme: botas, calças de couro, colete com listras verticais, casaco escuro, gravata e camisa brancas, cartola e, às vezes, uma capa.

O cocheiro normalmente iniciava o dia as seis da manhã, colocando o estábulo em ordem e preparando os cavalos. Depois ele lavava e limpava a carruagem, para que o veículo estivesse pronto quando fosse requisitado.

Era importante que o cocheiro fosse letrado, uma vez que precisa enviar as contas dos estábulos para o mordomo.

Um cocheiro que dirigisse uma carruagem de quatro cavalos era considerado habilidoso.

Era esperado que os cocheiros entendessem um pouco sobre o ofício dos ferreiros, bem como que soubessem consertar carruagens.

Em razão da função, os cocheiros iam com seus empregadores para os mais variados lugares: desde visita a amigos, até encontros clandestinos com amantes.

Em grandes propriedades, havia mais de sessenta cavalos. Ou seja, ‘sub-cocheiros’, cavalariços e postilhões eram necessários. Os postilhões, além de carregarem cartas, viajavam na frente das carruagens dos patrões, especialmente para providenciar comida, cavalos e acomodações.

Era falta de educação deixar um cocheiro esperando, da mesma forma que o cocheiro devia estar pronto para buscar os patrões no horário estabelecido.

Os lacaios

Os lacaios, além de acompanhar as damas da casa em passeios, era responsável por levar carvão para os quartos, limpar botas, colocar a mesa, servir o jantar, atender a porta e dormir na frente da sala onde a prataria ficava guardada. Em Londres, rapazes desempregados podiam ser contratados para trabalhar em eventos únicos.

O uniforme dos lacaios consistia em calças até o joelho e meias de seda.

Um livro de 1823 instruía rapazes que queriam ser lacaios em Londres a aprender as ruas onde seus possíveis patrões faziam visitas, a fim de instruir o cocheiro.

Quando chegavam em um lugar, o lacaio batia forte na porta para indicar a importância do visitante.

Se houvesse mais de um lacaio, era desejável que eles tivessem aparências similares.

Grandes casas tinham um lacaio atrás de cada cadeira na sala de jantar.

Lacaios (assim como mordomos, cocheiros e valetes) usavam perucas brancas.

O lacaio esperava no pé da escadaria para entregar velas aos convidados.

A maioria dos lacaios tinha menos de 20 anos.

O cozinheiro

Um cozinheiro estrangeiro tinha o melhor salário dentre os funcionários de uma casa. Os franceses eram os preferidos (com a Revolução Francesa, o número de chefs franceses na Inglaterra cresceu muito).

Convidados inesperados no natal colocavam muita pressão nos cozinheiros, pois um cardápio variado precisava ser elaborado. Além disso, existia a possibilidade de os convidados não poderem ir embora em razão do mau tempo (nevasca).

Marie-Antoine Carême foi o pioneiro dos ‘chefs-celebridade’ (o príncipe regente ofereceu um salário de quinhentas libras ao ano para Carême, e uma pensão de duzentas e cinquenta libras caso ele – o príncipe – morresse, mas Carême recusou).

 DEMITINDO OS CRIADOS

Normalmente as demissões eram feitas com um mês de antecedência, ou imediatamente (mas com o pagamento de um mês no momento da demissão). Os empregados também precisavam avisar o patrão com um mês de antecedência se pretendessem deixar o emprego, mas o que normalmente acontecia era o empregado simplesmente ir embora.

A quebra de contrato por parte do empregado, fosse por insolência ou por recusa em realizar suas funções, podia resultar em prisão pelo período de tempo restante do contrato. Essa, contudo, não era uma alternativa muito utilizada, uma vez que o patrão precisava continuar pagando o salário enquanto o funcionário estivesse na cadeia.

Quando o empregador morria, os funcionários tinham que ir embora (a não ser que outra pessoa os contratasse).

 CURIOSIDADES

Em 1806, havia cento e dez mil criados e oitenta mil criadas na Inglaterra.

A maioria dos criados começava a trabalhar aos treze ou quatorze anos, por doze a quatorze horas diárias, mas normalmente já trabalhavam antes disso em alguma outra ocupação.

O único feriado garantido dos criados era o dia de natal (não havia o direito de ter um dia de folga, ou direito de não trabalhar nos feriados).

Alguns empregadores deixavam que os criados tirassem folga no domingo (para descansar e ir a igreja). Consequentemente, todo domingo eles comiam algo que foi preparado no dia anterior.

Criados negros eram considerados elegantes durante a regência.

Como sempre estavam procurando aumento de salário, poucos criados permaneciam na mesma casa por mais de três ou quatro anos (era muito difícil alguém ser ‘promovido’ na equipe doméstica).

Especialmente no interior, os empregados mais antigos que trabalhavam para famílias abastadas ou aristocráticas não apenas exerciam seu poder com seus subordinados, como também tinham prestígio na comunidade. Diziam que esses criados tinham mais consciência de seus status na sociedade do que seus patrões.

Poucos patrões estavam dispostos a manter funcionários casados (alguns funcionários mantinham suas esposas e filhos em segredo, e os visitavam no tempo livre). Na verdade, a situação era um pouco diferente com criados externos, como um cocheiro: acreditavam que era mais provável que um homem casado se estabelecesse, do que um solteiro.

Uma ocupação comum para ex-funcionários casados era manter um estabelecimento de comida e bebida.

Casamento entre patrões e empregadas era um escândalo, mas casamentos entre patroas e empregados eram ainda mais.

Os empregadores mais ricos (e bons também) continuavam pagando uma pensão aos funcionários mais velhos – uma espécie de aposentadoria quando eles não podiam mais trabalhar.

Algumas mulheres ensinavam seus criados a ler e escrever – ainda assim, a maioria das pessoas considerava a prática um perigo, pois os criados passariam a crer que mereciam mais do que a posição deles permitia.

Em algumas casas, os aniversários, a chegada da maioridade, nascimento de bebês, etc, eram celebrados pelos criados também. Na noite dos casamentos, os criados festejavam com ponche e bolo.

A incivilidade com os funcionários era censurada, da mesma forma que o excesso de familiaridade entre patrão/empregado.

A maioria dos empregadores não se importava com as brigas e as rivalidades entre seus criados.

Depois de 1760, nenhuma família de bom senso iria contratar um criado que não tivesse sido vacinado contra a varíola (ou que já tivesse adoecido).

 

Uau! É muita informação né?

Aliás, se a informação que você procurava não está aqui, converse comigo através das redes sociais ou envie um e-mail para contato@romanceshistoricos.com.br 😉

Espero que tenham gostado!

Com carinho, Roberta.

Imagem em destaque: Registry office, Rowlandson.

Fonte: Regency Encyclopedia

Postado por: Roberta Ouriques

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