O natal no tempo de Jane Austen – 2

No primeiro post sobre o natal durante a regência, foram trazidas algumas datas especiais durante a temporada festiva de final de ano. Que tal, então, nos aprofundarmos em algumas delas?

Obs: quero deixar registrado que quando eu não citar referência diversa, a informação está sendo retirada do livro A Jane Austen Christmas, de Maria Grace. As páginas e demais informações estarão no final do post.

O PUDIM DE NATAL

Cinco semanas antes do natal, as famílias se reuniam para fazer o plum pudding ou, abrasileirando, o pudim de natal. As receitas variavam de família para família (aquelas receitas que passam de geração para geração), mas alguns ingredientes estavam presentes em quase todas as variações do pudim: gordura picada, groselha, uva passa e outras frutas cristalizadas, ovos, farinha, leite, especiarias e brandy. Os ingredientes eram misturados, depois enrolados em um pano, e então colocados para ferver durante quatro ou cinco horas.

Com o intuito de acentuar o sabor, os pudins de natal eram pendurados em ganchos durante as semanas anteriores ao natal para secarem. Quando secos, eram enrolados em panos encharcados em álcool e colocados dentro de louças de barro. Algumas pessoas ainda selavam o pudim com gordura ou cera para melhor preservação.

Lembrando: o último domingo antes do advento, que cai em algum dia entre os dias 20 e 26 de novembro, era considerado o último dia para a fabricação dos pudins de natal (para que eles pudessem “envelhecer” propriamente).

DIA DE SÃO TOMÉ (ST THOMAS’ DAY)

Senhoras e viúvas iam de casa em casa no dia 21 de dezembro, o dia de São Tomé, apóstolo de Jesus, na esperança de receber presentes, comida ou dinheiro. A tradição se tornou ainda mais comum devido às guerras napoleônicas, que aumentaram o número de viúvas na Inglaterra.

É importante lembrar que essa era uma data com uma tradição específica, mas toda a temporada das festas era cheia do espírito de caridade. No livro Jane Austen’s England, de Roy e Lesley Adkins, temos esse trecho do diário de Parson Woodforde, um reverendo: “Sendo hoje o dia de natal, eu fui para a igreja pela manhã e então fiz as orações e administrei os sacramentos. O Sr. e a Sra. Custance estavam presentes, e ambos receberam o sacramento das minhas mãos. Os seguintes necessitados jantaram em minha casa, como de costume: Js. Smith, Richd. Bates, Richd. Buck, Thos. Cary, Thos. Dicker, Thos. Cushing e Thos. Carr. Eu dei um xelim para cada, totalizando sete xelins. De jantar, eu servi um lombo assado e muito pudim de natal”.

BOXING DAY (DIA 26 DE DEZEMBRO)

Os empregados tinham um raro dia de folga nesse dia, o que geralmente significava que a família inteira podia se encontrar, mesmo que trabalhassem em estabelecimentos distintos. Os empregadores e patrões distribuíam “caixas de natal” contendo roupas usadas e outros itens para os serviçais e comerciantes. Esperava-se, ainda, que os proprietários de terra fossem bastante generosos nesse dia, e muitos abriam suas casas para os inquilinos e os vizinhos mais necessitados.

P.s: as roupas usadas podem não parecer um bom presente, mas naquela época, os tecidos eram especialmente caros e apenas os mais abastados podiam se dar ao luxo de doar suas roupas velhas.

Uma vez que o boxing day era celebrado no dia 26 de dezembro, pode parecer que era o final das celebrações natalinas, mas, em verdade, ele dava início à outras festas como as pantomimas de natal, que culminavam na festa do dia de Reis.

FESTA DO DIA DE REIS

Era o dia de retirar os enfeites natalinos (algumas pessoas retiravam os enfeites à meia-noite e os queimavam), e também um dia de festas e bailes. Os bolos feitos para essa celebração eram elaborados, envoltos com coberturas coloridas de açúcar, guarnições de papel dourado e, por vezes, gesso vindo de Paris. Nas cidades, os comerciantes deixavam seus bolos expostos nas vitrines.

Para as autoras que estão pensando em ambientar um dos seus romances nessa época tão linda que é a época de natal, nunca é demais enfatizar que era uma época de se reunir com a família e com os amigos. Era uma época cheia de pequenas reuniões, jantares, festas no campo, bailes de máscaras, bailes, teatros e tudo mais. Até mesmo os criados podiam ter suas próprias festas (em algumas casas, é claro)!

E era também época de canções de natal! Os famosos christmas carols, que eu amo de paixão! Muitos dos que fazem sucesso hoje em dia não são dessa época, ou, pelo menos, tiveram uma melodia composta apenas anos depois, mas ainda assim era uma tradição.

Grupos de pessoas iam de casa em casa (especialmente as que tinham uma vela acesa na janela) e cantavam em troca de moedas, bebidas e comida. Durante o período da regência, o grupo normalmente terminava a procissão de cantoria na casa do maior proprietário de terra da região. Uma música que provavelmente era cantada naquele tempo e que continua muito comum nos dias de hoje é We Wish You A Merry Christmas. Também Adeste Fideles/O Come All Ye Faithfull, God Rest Ye Merry Gentlemen e I Saw Three Ships Come Sailing In. Outros exemplos: Deck The Halls, Here We Come A-wassailing, The Twelve Days Of Christmas. A letra de Joy To The World data de 1790, mas a melodia é de 1836. A letra de Hark the Herald Angels Sing é de 1739, e a melodia é de 1840.

Eu não sei vocês, mas eu conheço e escuto praticamente todas essas músicas hahaha. Se eu voltasse hoje no tempo, com certeza poderia me juntar a esses grupos de cantoria e arrecadar um dinheirinho pra caridade rs. Aproveitando a oportunidade: se quiserem ouvir versões bem legais dessas mais clássicas, eu recomendo o CD do Nat King Cole. Não vão se arrepender 😊

Espero que tenham gostado! Até o próximo – e último – post sobre o natal no tempo de Jane Austen.

Com carinho, Roberta.

Fonte: A Jane Austen Christmas, Maria Grace (Páginas: 7, 24, 25, 28, 30, 31, 44, 45 e 54).

Imagem em destaque: Pinterest.

Postado por: Roberta Ouriques

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