Os romances de Jane Austen: minha ordem de preferência

Se tem uma coisa que as pessoas sempre comentam (aqui, no facebook, no instagram…) é sobre os livros da Jane Austen. Se eu li, qual eu mais gosto, qual eu menos gosto, qual eu indico para quem ainda não leu nenhum, etc. E, claro, pedem resenhas! Eu quero muito escrever resenhas detalhadas sobre cada um dos livros, mas para isso eu preciso estar com a leitura bem fresquinha na cabeça… e já faz um tempo desde que eu li/reli algum dos livros dela. Só que esse era um assunto que eu vinha postergando, postergando e uma hora não dá mais, né? Então pensei em algo diferente, mas que ainda assim me permitisse expor um pouquinho minha opinião sobre as obras!

É a minha ordem de preferência dos romances de Jane Austen, mas com um plus: comentários sobre a publicação dos livros no início do século XIX. Vamos lá?

P.s: não estou incluindo Lady Susan e nenhum dos romances inacabados aqui.

P.s 2: deixei um quote do livro comentado no final de cada tópico 😊

Sexto lugar: Emma

Publicado em 1816, Emma foi o livro de maior tiragem de Jane Austen – foram duas mil cópias –, mas também o livro que registrou o pior índice de vendas. O preço comum era de um guinéu* (vinte e um xelins) pelos três volumes, mas uma edição especial com um custo extra de vinte e quatro xelins para ser encadernada em um material dourado foi enviada ao príncipe regente no dia 21 de dezembro de 1815.

* Livros eram uma mercadoria cara naquele tempo. Para se ter uma ideia, um guinéu equivalia ao salário semanal de um pároco mais humilde.

E por que Emma está na lanterna?

Eu preciso deixar claro que eu adoro todos os livros da Jane Austen, então não é que eu desgoste de Emma. O negócio é que eu acho que se alguém resolver começar por Emma pode ser que não queira seguir com a leitura dos outros cinco livros. Ou seja, não recomendo começar por aqui rs.

A história é basicamente a seguinte (gente, é um resumo do resumo do resumo hahaha): Emma Woodhouse, uma rica herdeira, acredita que foi responsável pelo casamento de sua ex governanta e convence a si mesma que tem um dom de casamenteira. Como ela mesma não tem pretensão de se casar (ela vai herdar a casa e a fortuna do pai, de modo que não vai sofrer os infortúnios da solteirice), Emma resolve que irá ajudar sua amiga Harriet Smith a achar um marido… e o Sr. Elton, um jovem vigário, é a escolha perfeita. Completam o enredo o cavalheiríssimo Sr. Knightley, vizinho de Emma, as divertidas Sra. e Srta. Bates, a misteriosa Jane Fairfax e o galante Frank Churchill.

De vez em quando a gente precisar forçar um pouco a barra para não desgostar da Emma, mas essa era exatamente a intenção de Jane Austen. Ela é, nas palavras da própria autora, “bonita, inteligente e rica, com uma casa confortável e disposição alegre (…) e tinha vivido quase vinte e um anos no mundo com muito pouco para angustiá-la ou irritá-la” (tradução de Ciro Mioranza). Em outras palavras: Emma é bem mimada, além de ser absolutamente convencida de que sabe tudo sobre tudo e todos rs.

Na verdade, a única pessoa que critica o comportamento de Emma é George Knightley. Aliás, Emma e George foram um casal um tanto quanto diferente: há uma diferença de idade bem significativa (são dezesseis anos de diferença), o que faz com que as personalidades dos dois conflitem em variados assuntos… e a função casamenteira de Emma é um deles rs.

Eu considero Emma o romance mais elaborado de Jane Austen, e o menos romântico. Gosto muito do casal Emma + George, mas não há como negar que Emma, e sua personalidade nada fácil, é a verdadeira estrela da narrativa. Mas lembrem-se: o fato de o livro estar por último na minha lista de preferência não significa que não gosto dele! Muito pelo contrário, eu indico MUITO a leitura de todos os livros de Austen.

A natureza humana é tão bem-disposta para aqueles que se encontram em situações interessantes que um jovem, que venha a se casar ou a morrer, com certeza será elogiado por todos (tradução de Ciro Mioranza).

Quinto lugar: A abadia de Northanger

A Abadia de Northanger foi publicado postumamente, em 1818, em conjunto com Persuasão: eram quatro volumes a um custo de vinte e quatro xelins. Foram feitas mil setecentas e cinquenta cópias, que se esgotaram no ano seguinte. Não houve uma segunda edição dessa publicação conjunta.

* Foi nessa edição que Henry Austen, irmão de Jane, revelou ao público a identidade da escritora.

Aqui temos a história de Catherine Morland, uma menina que, aos dezessete anos, nunca tinha saído dos limites do vilarejo em que morava. Certo dia, Catherine é convidada por seus vizinhos para uma temporada em Bath (você pode ler um pouquinho sobre Bath aqui) e é aí que a história começa. Em Bath, Catherine conhece Isabella Thorpe e as duas logo iniciam uma amizade. E mais do que isso: Isabella se diz apaixonada por James Morland, irmão de Catherine, e torce para que Catherine se aproxime de seu próprio irmão, John Thorpe. O problema é que o coração de Catherine já foi fisgado por Henry Tilney, que é o verdadeiro mocinho da história. Bem, conversa vai, conversa vem, bailes vão e bailes vêm, e Catherine acaba na Abadia de Northanger, a casa ancestral da família de Henry Tilney – e é por lá que a história encontra seu desfecho (que eu, particularmente, adoro).

O único motivo para A Abadia de Northanger estar no penúltimo lugar é por que eu gosto um tiquinho mais do quarto lugar rs. Não tem nada ruim nele não. Aliás, eu acho que é um romance bem criativo. Gosto muito da Catherine e sua pré-disposição ao drama, gosto bastante do mocinho da história, Sr. Tilney, que é bem diferente de todos os outros mocinhos de Austen e gosto bastante da forma como o relacionamento deles é construído: inicia-se como um amor platônico por parte de Catherine. Eu simplesmente tinha que escolher entre dois títulos para estabelecer um quinto lugar rs!

Ah! Não posso deixar de lembrar que esse livro é uma sátira dos romances góticos que eram muito populares na época. E um romance muito citado por Jane Austen é Os mistérios de Udolpho, de Ann Radcliffe. Quando eu li pela primeira vez, não tinha nenhuma edição em português desse livro (e foi bem triste descobrir isso hahaha), mas hoje já temos uma linda edição, em dois volumes, da editora Pedrazul. Vale a pena o investimento 😉

Aquele que, homem ou mulher, não sente prazer na leitura de um bom romance deve ser insuportavelmente estúpido. Li todas as obras da sra. Radcliffe, e a maioria delas com grande prazer. Quando comecei a ler ‘Os mistérios de Udolpho’, não conseguia larga-lo; lembro-me de que o li em dois dias… de cabelos arrepiados o tempo inteiro (tradução de Roberto Leal Ferreira).

Quarto lugar: Mansfield Park

Mansfield Park foi publicado em maio de 1814, em três volumes, pelo preço de dezoito xelins. Em dezembro do mesmo ano a primeira edição (uma tiragem de mil duzentas e cinquenta cópias) tinha se esgotado. Uma segunda edição, com uma tiragem de setecentas e cinquenta cópias, foi publicada em 1816.

Dói não colocar Mansfield Park no pódio porque eu realmente gosto desse livro rs! Eis a história: Fanny Price é a prima pobre criada pelos tios ricos, e enquanto alguns de seus primos a tratam como irmã, outros parentes fazem questão de fazer com que Fanny lembre sempre qual é seu lugar na casa. O mocinho aqui é Edmund Bertram, mas outros personagens também movimentam a trama: os outros Bertrams (Maria, Julia e Tom), a Sra. Norris, Henry e Mary Crawford e o Sr. Rushworth.

Em Mansfield Park existe um arranjo familiar que possibilita todo o enredo e que vale a pena recordar: são três irmãs e três casamentos distintos. Maria Ward, que se casa com Sir Thomas Bertram, um baronete; A Srta. Ward (não sei se o nome de batismo aparece no livro), que se casa com o pastor Norris, que tem um ganho considerável; e Frances, que se casa com o Sr. Price, um tenente dos fuzileiros navais sem nenhuma conexão ou recursos. Lady Bertram teve quatro filhos, Thomas, Edmund, Maria e Julia. A Sra. Norris não teve nenhum. E a Sra. Price teve nada menos do que nove filhos – dentre eles Fanny, a protagonista do romance. Resta dizer que, para ajudar na situação da irmã menos favorecida, Lady Bertram acata a ideia da Sra. Norris e passa a criar Fanny em sua casa – mas nunca como sua filha. Aliás, Lady Bertram pode ser descrita como uma anta, ao passo que a Sra. Norris é uma verdadeira cobra rs.

Eu amo que a história se passa quase inteira dentro da propriedade de Sir Thomas – e depois nós ainda temos a oportunidade de diferenciar Mansfield da casa da família Price. Além disso, Fanny é tão verdadeira! Não é nem um pouco perfeita, e sente ciúmes, inveja, irritação, desconfortos e angústias como todos nós. Não tem como não ser fã de uma escritora que cria uma personagem dessas hehe.

Ah, nesse artigo aqui, que trata sobre as fortunas nas obras de Austen, o autor chegou a conclusão de que um personagem de Mansfield Park (o Sr. Rushworth) é o personagem mais rico da autora. Legal né?

Seu estado de espírito na certa contribuía para aquela indisposição, pois sentia-se esquecida e vinha lutando contra o descontentamento e a inveja fazia alguns dias (tradução de Alda Porto).

Terceiro lugar: Razão e Sensibilidade

Razão e Sensibilidade foi publicado em outubro de 1811, custando quinze xelins pelos três volumes. A tiragem dessa primeira edição foi algo entre setecentas e cinquenta e mil cópias – e todos os livros foram vendidos até julho de 1813 (o lucro para Jane Austen foi de cento e quarenta libras). Para a segunda edição, o preço aumentou para dezoito xelins.

Esse foi o primeiro livro da Jane Austen que eu li e eu lembro até hoje do momento em que descobri que ela seria uma das minhas escritoras favoritas: eu estava sentada em uma poltrona na casa da minha prima, em Jundiaí, e li o capítulo dois. Para quem ainda não leu, é um diálogo entre o irmão das protagonistas e sua esposa, e é simplesmente sensacional.

As vidas da senhora e das três senhoritas Dashwood (Elinor, Marianne e Margaret) muda de uma hora para outra com o falecimento do Sr. Dashwood. Elas deixam a mansão em que vivem no condado de Sussex para um chalé em Devonshire, onde se tornam vizinhas dos Middleton. E aí outras figuras entram na vida das Dashwoods, em especial o coronel Brandon, um amigo dos Middleton, e John Willoughby, vizinho dos Middleton. Mas outros conhecidos não deixam de estar presentes mesmo após a mudança, como Edward Ferrars (irmão da cunhada das Dashwoods), as senhoritas Steele e o próprio Henry Dashwood, irmão das protagonistas, e Fanny, sua esposa.

A grande questão de Razão e Sensibilidade está na diferença de personalidades e temperamentos entre as irmãs Elinor e Marianne. Onde Elinor é cautelosa, Marianne é impulsiva… e isso inclui relacionamentos amorosos. Marianne se entrega inteiramente ao primeiro sinal de um possível amor, enquanto que Elinor analisa todas as possibilidades antes de se comprometer. E as duas, agindo de maneiras absolutamente diversas, acabam sofrendo decepções amorosas! Uma pelo excesso de emoção, a outra pelo excesso de cuidado. Ou seja, há males para todos os lados rs.

Esse livro é um clássico, realmente, e eu considero leitura obrigatória.

Mãe, você não está agindo corretamente comigo. Sei muito bem que o coronel Brandon não é tão velho para deixar seus amigos apreensivos de perde-lo por morte natural. Pode viver mais vinte anos. Mas trinta e cinco nada têm a ver com casamento (tradução de Ciro Mioranza).

Segundo lugar: Persuasão

Ahhhh, Persuasão! Eis um romance de fazer suspirar! É um dos meus livros preferidos da vida, então, antes de tudo, vou fazer um resuminho da história: Anne Elliot é uma das três filhas de Sir Walter, um baronete, e é justamente por causa de sua posição social que a família faz com que Anne desista de seu noivado com Frederick Wentworth. Oito anos depois, os Elliot estão em uma situação financeira complicada, e alugam sua mansão para o almirante Croft e sua esposa. E qual é a surpresa de Anne ao descobrir que Frederick é irmão da Sra. Croft! Ah, gente, eu arrepio só de lembrar da expectativa de ler o reencontro de Anne e Frederick, que, pelas mãos incrivelmente talentosas de Jane Austen, é lindo!

Eu não vou nem falar de nenhum outro personagem, por que realmente não tem sentido. Anne e Frederick comandam esse romance de forma magistral, com todas as dificuldades e camadas dos seus sentimentos um pelo outro. É perfeito da primeira até a última palavra.

Para quem ainda não leu nenhum dos livros: eu acho que Persuasão é uma excelente escolha para adentrar no universo Jane Austen!

Ai! Com todo o seu raciocinar, ela descobriu que, para sentimentos reprimidos, oito anos podem ser pouco mais do que nada (tradução de Ciro Mioranza)

Primeiro lugar: Orgulho e Preconceito

Custando dezoito xelins pelos três volumes, Orgulho e Preconceito foi publicado em janeiro de 1813 – e em maio daquele mesmo ano já era o livro da moda. A tiragem inicial foi de mil e quinhentas cópias, que devem ter sido vendidas rápido, pois em outubro de 1813 uma segunda edição de Orgulho e Preconceito já estava segundo publicada (não se sabe o tamanho da tiragem, apenas que o livro passou a ser comercializado em dois volumes pelo preço de doze xelins).

E eis o primeiríssimo lugar! Não poderia ser diferente, né? Eu amo Orgulho e Preconceito (tanto que tenho uma coleção de diversas edições do livro). Curiosamente, foi o último livro que eu li, acreditam? Já tinha assistido o filme e tudo o mais. E é uma história bastante conhecida, que acho que nem resumo precisa rs! Mas permitam que eu destaque alguns pontos: esse livro é realmente uma obra-prima, Elizabeth Bennet é uma personagem maravilhosa (e todo mundo devia tentar ser um pouquinho como ela) e o Mr. Darcy é o mocinho supremo de todos os romances hahaha (não consigo pensar em Mr. Darcy como Sr. Darcy).

Sabe aquela história que você para e pensa: poxa, esse autor realmente estava inspirado quando inventou isso. Então… é o que acontece com Orgulho e Preconceito. E se nós já nos encantamos hoje em dia, eu consigo imaginar o estrago que Mr. Darcy fez nos corações desavisados das donzelas do período da regência…rs. Realmente, não causa espanto algum saber que Orgulho e Preconceito foi um livro da moda naquele tempo (eu fico imaginando algo tipo Crepúsculo por aqui em 2008/2009 hahaha).

Já perdi a conta de quantas pessoas eu presentei com um exemplar desse livro, e se pudesse faria todo mundo ler. Então, fica a dica 😊

Não se pode fazer troça do senhor Darcy! – exclamou Elizabeth. – É uma vantagem incomum e incomum espero que continue, pois seria uma grande perda para mim contar com mais de uma pessoa assim entre minhas relações. Adoro realmente uma boa piada (tradução de Ciro Mioranza).

 

Uau! Ficou um post um pouco longo, né? Mas espero que tenha ficado agradável hehe.

Com carinho,

Roberta.

As informações históricas foram retiradas daqui.
Postado por: Roberta Ouriques

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