Resenha: A mão e a luva – Machado de Assis

Editora Globo, 107 páginas

Isso não é um “resumão” para o vestibular, ein? rs. Muita gente tem essa visão quando falamos de escritores clássicos brasileiros: de que são livros chatos, que só lemos por que somos obrigados na escola, e assim por diante. Tem livro chato? Tem (eu mesma nunca consegui gostar de Memórias póstumas de Brás Cubas), mas tem livro muito bom sendo deixado de lado por conta desse “preconceito”.

Machado de Assis foi um escritor brasileiro que nasceu no Rio de Janeiro em 1839 e é considerado por muitos o maior nome da literatura no Brasil. Ele não é meu escritor brasileiro preferido (eu fico com José de Alencar), mas eu escolhi fazer uma resenha de “A mão e a luva” por primeiro por que li esse livro faz menos tempo e a história está mais fresquinha hehe. É um livrinho de pouco mais de 100 páginas e dá para ler num dia, se você tiver o tempo necessário. E vale muito a pena, especialmente para quem gosta de romances.

O livro narra a história de dois amigos, Estêvão e Luís Alves, e da relação deles com Guiomar. Os dois amigos são confidentes, mas essencialmente diferentes um do outro:

Estêvão, dotado de extrema sensibilidade, e não menor fraqueza de ânimo, afetuoso e bom, não daquela bondade varonil, que é apanágio de uma alma forte, mas dessa outra bondade mole e de cera, que vai à mercê de todas as circunstâncias, tinha, além de tudo isso, o infortúnio de trazer ainda sobre o nariz os óculos cor-de-rosa de suas virginais ilusões. Luís Alves via bem com os olhos da cara. Não era mau rapaz, mas tinha o seu grão de egoísmo, e se não era incapaz de afeições, sabia regê-las, moderá-las, e sobretudo guiá-las ao seu próprio interesse. (página 3)

O livro já se inicia com um diálogo entre os dois, e ali Machado de Assis já dá o tom da história, nos mostra como funciona a amizade entre Estêvão e Luís Alves e nos “apresenta” Guiomar, a ex-namorada de Estêvão. No segundo capítulo, Guiomar entra em cena efetivamente, como vizinha de Luís Alves, e a história começa a se desenrolar (ela se passa um tempo depois do primeiro capítulo). Ela é uma menina que vive com a madrinha, por quem sente uma imensa gratidão, e é dotada de grande beleza e personalidade forte.

Eu não tenho como falar muito da história sem soltar alguns spoilers, mas há outros pontos bem importantes para serem destacados. 1) Machado de Assis escreve muito bem, 2) Machado de Assis é um ótimo frasista e 3) Machado de Assis tem um estilo excepcional e vai “conversando” com o leitor durante a escrita.

Ninguém a observava; mas é privilégio do romancista e do leitor ver no rosto de uma personagem aquilo que as outras não vêem ou não podem ver. (página 67)

É aquele tipo de livro que você vai precisar procurar uma ou outra coisinha no dicionário para conseguir seguir a vida em paz (rs), mas isso é um bônus né? Aprendemos palavras novas, ainda que algumas tenham caído em desuso.

Foi uma resenha curtinha para um livro também curtinho, mas espero que tenham gostado. Para quem nunca leu Machado de Assis, esse é um bom livro para começar (ainda que o mais famoso seja Dom Casmurro) e se ainda não leu por achar que esse livreto “não está a altura” de Machado de Assis, pode ler sem medo. É um livro “água com açucar”, sim, mas foi escrito com grande maestria.

Com carinho, Roberta.

Postado por: Roberta Ouriques

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