Resenha: Desejo e Escândalo – Lorraine Heath

Editora HarperCollins Brasil, selo Harlequin, 304 páginas

Título original: Beyond scandal and desire

Tradução de Thalita Uba

Depois de ler a série Os sedutores de Havisham (resenha aqui), eu descobri que adoro Lorraine Heath: gosto da escrita dela, gosto das histórias, gosto das personagens e assim por diante. Então é claro que eu precisava ler o novo lançamento da autora aqui no Brasil, né? Desejo e Escândalo é o primeiro livro da série Sins for all seasons. Na edição brasileira, não há qualquer indicativo de que o romance faz parte de uma série, mas eu realmente espero que a Harlequin resolva publicar a série toda. Aliás, é a série mais recente da Lorraine Heath! 🙂

E essa série começa com a história de Mick Trewlove:

Mick Trewlove é um empresário de sucesso, mas não consegue esquecer seu passado. Filho ilegítimo de um duque, Mick foi entregue ainda bebê para uma mulher na periferia de Londres, onde foi criado. Ele não consegue se livrar do sentimento de vingança, e percebe uma oportunidade de revanche seduzindo a bela pretendente de seu meio-irmão – o filho legítimo do duque.

Lady Aslyn Hastings é uma órfã criada pelo duque e pela duquesa de Hedley, e acaba de aceitar o filho deles, o conde de Kipwick, como futuro marido. Mas seu noivo é um homem muito ocupado que a mantém afastada de sua vida, e isso desperta em Aslyn o receio de uma relação monótona. Até que a paixão surge na forma do belo empresário Mick Trewlove, que parece compreendê-la tão bem. Ela sabe que uma Lady na sua posição deveria evitar aquele homem misterioso, mas ele é irresistível.

Mick e Aslyn não poderiam ter vidas mais diferentes. Mick foi abandonado por seu pai quando bebê e precisou ralar muito para conquistar tudo o que possui, enquanto Aslyn, apesar de ter perdido os pais ainda criança, cresceu com todos os luxos possíveis. Eles não frequentam os mesmos lugares, não socializam com as mesmas pessoas, mas há uma conexão: o tutor de Aslyn é o pai biológico de Mick.

Com a intenção de fazer com que seu pai (duque de Hedley) o reconheça como filho, Mick força um encontro com Aslyn e seu noivo, que, além disso, é o filho legítimo do duque. O plano de Mick é muito simples: ele vai destruir a vida do filho legítimo até que a única saída para o pai seja reconhecer sua origem. E um dos meios de destruir a vida de seu meio-irmão é justamente ferindo a honra de sua noiva, a impecável lady Aslyn.

O problema do plano de Mick é que ele não levou em consideração que poderia gostar de Aslyn. Desde o início, ele fica intrigado com a lady – mesmo sabendo que uma relação entre eles estava totalmente fora de cogitação. Tudo se complica ainda mais porque Aslyn, mesmo sabendo que jamais conseguiria a aprovação de seus tutores para se relacionar com um bastardo, não consegue ficar longe de Mick.

É um enredo que, se pararmos para pensar, pode conter inúmeros clichês, certo? E, de fato, nós encontramos alguns deles no livro, mas o legal da Lorraine Heath é a sua incrível habilidade de tratar temas sensíveis sem que o livro se torne excessivamente dramático. Não que eu tenha algum problema com o drama, mas é que ficaria muito desconexo, uma vez que a autora se utiliza de um tom mais leve, cômico até, na sua escrita.

Mesmo assim, muitos temas relevantes são trazidos à tona. Eu, que adoro pesquisar sobre a vida nos séculos XVIII e XIX, gosto muito quando o romance de época – que, via de regra, não precisa ter tanta conformidade com fatos históricos – possui esse viés mais histórico. Das autoras que conseguem “unir” os dois gêneros com muita competência, eu destaco Lorraine Heath (embora Mary Balogh seja minha preferida).

Nesse livro, eu adorei como ela se utilizou de uma das suas personagens para “escancarar” alguns hábitos terríveis da alta sociedade do período vitoriano. Lady Aslyn, que foi criada com muita pompa e regalias, precisa encarar realidades que ela nem imaginava que existiam. Ela cresceu praticamente confinada nas propriedades do duque de Hedley e não achava que possuía interesses que ultrapassassem a vida que levava. A conformidade da moça era tanta que o casamento com Kipwick – o filho do duque – era sua maior certeza, mesmo com a relação quase fraternal entre eles. E isso tudo muda quando ela conhece Mick Trewlove e é confrontada com a vida dele, o passado dele, as batalhas dele, a liberdade dele.

Pois Mick pode ser um riquíssimo homem de negócios, mas o caminho até o sucesso foi árduo. Para começar, Mick foi abandonado pelo pai quando ainda era um bebê. Foi deixado na porta de Ettie Trewlove, a mulher que acabou se tornando sua mãe, e esquecido pela sua “família”. E uma vez que foi privado do seu berço de ouro, Mick precisou trabalhar desde criança. Aliás, isso era algo extremamente comum naquele tempo. As crianças eram colocadas para trabalhar em jornadas de mais de doze horas diárias – e suas funções não eram nada fáceis:

– Não consigo imaginá-lo precisando de muita ajuda. Conte-me como o senhor acabou onde está hoje.

– Trabalhei como aprendiz de lixeiro, juntando fuligem das casas.

– Como um limpador de chaminé?

– Não exatamente, embora eu tenha trabalhado nisso por um tempo, até ficar grande demais para subir pelas chaminés. Essa sujeira é colocada em baldes de metal, do lado de fora da casa, para que os lixeiros coletem. Nós a vendíamos para os fabricantes de tijolos, que a utilizam em sua fabricação.

– Eu não fazia ideia.

– Por que deveria saber de todas as coisas necessárias para manter o seu conforto?

– Não sei, mas parece que eu deveria saber. (página 102, tradução de Thalita Uba).

No livro, essas dificuldades foram o combustível para Mick prosperar, e isso só acrescenta ao caráter da personagem. E mesmo que ele tivesse um motivo um tanto quanto mesquinho – provar para seu genitor que era capaz de muita coisa –, seu maior objetivo era poder ajudar sua mãe adotiva e seus irmãos: Fancy (a única filha biológica de Ettie), Gillie, Aiden, Finn e Ben (também conhecido como Fera). Todos filhos ilegítimos de alguém.

O abandono de filhos ilegítimos – os bastardos – é o carro chefe da série, por assim dizer (e digo isso sem nem ter lido os outros livros). Como o livro de Mick é o primeiro, aqui nós somos apresentados a uma prática muito cruel daquela época: homens levavam seus bastardos para que mulheres (normalmente pobres) resolvessem seus problemas. E normalmente as mulheres matavam os bebês por alguma quantia irrisória deixada pelos pais. Esse é o início da vida de Mick e de seus irmãos. O assunto é trabalhado com muita leveza, mas ainda assim Lorraine Heath conseguiu inserir várias lições na história. Tanto que eu resolvi que logo, logo vou fazer um post sobre isso!

Por ora, preparem-se para se apaixonar por Mick, para uma leitura muito prazerosa e para esperarem ansiosamente pelos próximos volumes da série. Dois livros já foram lançados (com as histórias de Gillie – que é dona de uma taberna – e de Finn), mas eu acredito que todos os irmãos vão ganhar seu próprio livro. E já adianto: o que mais quero é o da Fancy! Não sei o motivo, mas tenho um pressentimento que o mocinho do livro dela será Kipwick…

Acho que pela resenha deu para perceber que o livro é muito mais do que essa capa ma-ra-vi-lho-sa, certo? Não consigo pensar em um ponto negativo que seja relevante mencionar, e mesmo tendo lido por aí que a tradução deixou a desejar, eu particularmente gostei bastante.

Espero que tenham gostado! E quem já leu, que tal deixar um comentário? 🙂

Com carinho, Roberta.

Postado por: Roberta Ouriques

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