Resenha: Esposas e Filhas – Elizabeth Gaskell

Editora Pedrazul, 536 páginas

Título original: Wives and daughters

Tradução: Ellen Cristina Bussaglia

Tem adaptação para a TV/Cinema? Sim. A BBC produziu uma minissérie de quatro capítulos em 1999, que foi protagonizada por Justine Waddell. Outra adaptação já havia sido feita antes, em 1971.

Inglaterra provincial, 1830. Molly Gibson, filha única de um médico viúvo, é negligenciada por Miss Clare, ex-governanta. Sete anos depois, Molly é uma atraente jovem que desperta o interesse de Mr. Coxe, um dos aprendizes de seu pai. O afeto é descoberto e Mr. Gibson envia a filha para ficar com os Hamleys, de Hamley Hall, uma aristocrata família de donos de terras muito antiga na região. Lá ela se torna amiga do Hamley mais novo, Mr. Roger. O filho mais velho da família, Osborne Hamley, um jovem bonito, inteligente e mais elegante do que seu irmão, é esperado para fazer um casamento brilhante após uma excelente carreira na Universidade de Cambridge. Porém, um grande segredo o envolve. Ciúmes, mexericos, segredos, traições, tragédias e amor marcam este formidável romance considerado pela autora como Uma História Cotidiana.

Elizabeth Cleghorn Gaskell nasceu no dia 29 de setembro de 1810, em Chelsea, Londres, na Inglaterra, e teve seu primeiro livro, Mary Barton, publicado em 1848. Gaskell também escreveu uma biografia de Charlotte Bronte, de quem foi amiga íntima, em 1857.

Esposas & Filhas foi publicado originalmente na The Cornhill Magazine, em forma de capítulos, e hoje é considerada a maior obra da autora. Os capítulos começaram a ser publicados em agosto de 1864 e a conclusão foi publicada em janeiro de 1866, após a morte de Elizabeth Gaskell, que faleceu no dia 12 de novembro de 1865, enquanto visitava uma casa que havia comprado em Holybourne, Hampshire. Mas como? Gaskell deixou todos os capítulos escritos, com exceção do último (isso mesmo, Elizabeth Gaskell não terminou de escrever o que muitos consideram sua obra-prima). Posteriormente, ainda em 1866, o Esposas & Filhas foi publicado em forma de livro, primeiro nos Estados Unidos e depois na Inglaterra. Aqui no Brasil, a Editora Pedrazul trouxe o livro para seu catálogo em 2016.

A edição (como todas as edições da Pedrazul) é maravilhosa. A capa tem uma imagem linda, a diagramação é muito bonita e agradável aos olhos e as ilustrações vêm do jeito que eu gosto: poucas, com uma legenda embaixo aludindo a que parte do texto se refere. Além disso, eu tenho uma “mania” de anotar erros de digitação (as vezes tem de português, viu? Ou falta fechar aspas, essas coisas) enquanto leio, e nesse livro não encontrei nenhum. Pode ser que tenha passado batido, mas é um ponto muito positivo. A tradução de Ellen Cristina Bussaglia também. Longe de eu querer afirmar que sou a maior expert, mas quando a tradução é ruim dá para perceber né?

“Esposas e Filhas” conta a história de Molly Gibson, que vive em Hollingford, uma cidadezinha do interior da Inglaterra. Tudo começa em 1830, quando Molly ainda é criança. Ela faz uma visita a Towers, a propriedade do conde e da condessa de Cumnor, e lá sofre um pequeno trauma que, de algum modo, marca sua vida.

Então, pulamos para 1837, quando os acontecimentos da trama efetivamente começam a tomar forma. Molly é filha de Mr. Gibson, o médico da região, que além de atender pacientes da cidade e dos arredores, recebe em sua casa alguns jovens aprendizes. Um desses aprendizes, Mr. Coxe, desenvolve um interesse amoroso em Molly – e isso é completamente inconcebível aos olhos de Mr. Gibson. O que ele faz, então? (Não se preocupem, tudo isso está na sinopse do livro!) Para a infelicidade de Molly, Mr. Gibson decide enviar a filha para passar um tempo na propriedade de Mr. Hamley, um rico proprietário de terras local, onde Molly não irá conviver apenas com Mr. e Mrs. Hamley, mas também com os dois filhos do casal, Osborne e Roger Hamley.

Daí vocês já podem pensar que sabem os caminhos que a história vai tomar, não é? Eu também pensei, e foi uma boa surpresa quando percebi que eu estava muito enganada. Mr. Gibson ainda tomará outras decisões que irão afetar a vida de Molly e trarão outros personagens para apimentar ainda mais os conflitos criados pela autora. Além disso, dois dos personagens possuem seus próprios mistérios e Molly está intimamente ligada às resoluções de ambos. Enfim, tem romance, tem intriga, tem mistério, tem morte e tudo isso conectado de uma forma que faz você terminar um capítulo e querer logo começar o outro.

Alguns dos personagens já aparecem na primeira parte do livro (isto é, quando Molly é criança), enquanto outros só surgem na segunda parte. São personagens muito bem criados e com as mais variadas particularidades: Miss Clare, uma ex governanta, Cynthia, filha de Clare, o conde e a condessa de Cumnor e seus filhos, as Misses Browning, Mr e Mrs. Hamley e os filhos, além de outros personagens um tanto quanto secundários mas que nem por isso deixam de ser elementos necessários na história da Sra. Gaskell.

Esse é, ao meu ver, um dos pontos fortes da autora. Ela cria características tão fortes em seus personagens, e tão verdadeiras, que é praticamente impossível que você leia um livro dela e não reconheça num dos personagens a personalidade de alguém que você conhece. Ainda que alguns sejam obviamente caricaturas, isso é um feito e tanto. Criar personagens verossímeis, com vontades e sentimentos autênticos, não é para qualquer autor.

O livro não me cativou no início, vou admitir. Era excelente, e como todo clássico, você tira ótimas informações sobre o período em que o livro foi escrito, mas em termos de história e da fluidez da narração, eu sentia que não estava conseguindo me apegar, com exceção de algum arco ou outro. Até a introdução da personagem Cynthia. A partir daí, os mistérios, conflitos, soluções, ficaram muito mais interessantes, e terminei a leitura “num tapa”. Fiquei até triste quando terminei, e não apenas porque o livro havia acabado, mas porque, conforme mencionei acima, Elizabeth Gaskell não teve a oportunidade de terminar de escrevê-lo. Mas não precisam se assustar! Os maiores mistérios do livro têm seus desfechos e pelo andar da carruagem, nós temos uma clara ideia do que iria acontecer com Molly no final (a editora Pedrazul publicou um capítulo extra, com comentários do editor original de Elizabeth Gaskell, contando o que teria acontecido). Mas, é claro, ficamos com vontade de ver como a autora iria descrever tal acontecimento, ou como contaria determinada parte.

Mesmo “sem o último capítulo” eu acho que a leitura desse livro é vale muito a pena. Se você for como eu, precisa saber que esse é um livro de onde você pode extrair muitas informações sobre a Inglaterra do início da era vitoriana (igual a todos os outros livros da autora). As informações não vêm como em livros de história, mas de forma sutil, as vezes em diálogos, e devagarinho nós vamos descobrindo mais sobre o modo de vida naquele tempo.

Um outro ponto muito positivo é a escrita. Elizabeth Gaskell escrevia bem. Bem a ponto de você ler uma construção de frase dela e pensar: gente, que obra prima. Então se você curte uma boa leitura, esse é um dos livros para você ? (a primeira edição acho que já esgotou, mas o livro encontra-se em pré-venda no site da Pedrazul).

Com carinho, Roberta.

Postado por: Roberta Ouriques

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