Resenha: Inglaterra de Jane Austen – Roy e Lesley Adkins

Penguin Books USA, 422 páginas

Título original: Jane Austen’s England – Daily life in the Georgian and Regency periods

Tem tradução para o português? Não

Roy e Lesley Adkins são escritores e arqueólogos britânicos. Roy veio de Maidenhead, Berkshire e se formou em na Universidade de Cardiff, enquanto Lesley veio de Havant, Hampshire e se formou na Universidade de Bristol. Os dois se conheceram enquanto trabalhavam em Milton Keynes e hoje em dia vivem em Devon e se dedicam basicamente à escrita. Nenhum dos livros dos autores foi traduzido para o português, mas muitos tratam de temas muito interessantes. Dois deles, inclusive, eu quero pra ontem: “Jack Tar: The extraordinary lives of ordinary seamen in Nelson’s navy” (Jack Tar: As vidas extraordinárias de marinheiros ordinários na marinha de Nelson), que eu inclusive já comprei e só estou esperando chegar, e “Gibraltar: The Greatest Siege in British History” (Gibraltar: O maior cerco da história britânica).

Ah! E os dois são pessoas maravilhosas! Eu já mandei uns dois ou três e-mails para eles com algumas perguntas específicas. O negócio é que meio que mandei o primeiro e-mail despretensiosamente, e não é que eles me responderam? Foram muito atenciosos, explicaram todas as minhas dúvidas e garantiram minha total admiração daqui para frente. Vocês podem visitar o site deles, descobrir mais sobre os livros e, de quebra, pode entrar em contato com as informações contidas lá ?

“A Inglaterra de Jane Austen” foi publicado, originalmente, em 2013, no Reino Unido. O meu exemplar, contudo, é uma edição americana. Ele vem com mapas no início, para ajudar o leitor a se situar, e no meio do livro tem umas folhas bem duras com umas imagens bem legais que fazem referência a alguns assuntos abordados no livro. A capa também achei muito criativa, e depois de ler você percebe que todos aqueles desenhos estão ali por algum motivo. Linda!

Bem, esse não é um livro de ficção. Nas últimas páginas, a gente encontra uma extensa lista de bibliografia utilizada pelos autores para trazerem para os leitores informações técnicas de uma maneira prazerosa e divertida, além de outras tantas páginas de notas contidas pelo texto. É um livro técnico, pois os autores são historiadores por profissão, mas como é um tema que nos interessa, e os autores além de tudo são excelentes escritores, a leitura flui que é uma beleza.

A sinopse diz o seguinte:

“Quase dois séculos após sua morte, Jane Austen continua sendo a escritora mais querida da literatura inglesa, incomparável na sagacidade, espírito e discernimento com os quais ela retrata seus personagens e eventos. Porém, a atmosfera que Austen nos apresenta é apenas um dos aspectos da Inglaterra em que ela viveu, um tempo de guerra, agitação e mudanças dramáticas tanto no cenário físico quanto social do país.

A Inglaterra de Jane Austen oferece uma nova e cativante perspectiva do mundo de grandes escritores, numa detalhada e completa história social da cultura inglesa no final do século XVIII e início do século XIX. Como no seu best-seller, Nelson’s Trafalgar, Roy e Lesley Adkins trazem um grande conjunto de fontes contemporâneas para demonstrar como era a vida tanto das classes superiores como dos plebeus. Eles nos brindam com um vívido quadro de como eles viviam, tinham seus momentos de lazer e batalhavam para sobreviver – uma esclarecedora e enriquecedora companhia para os livros de Austen” (tradução livre).

Dá vontade de ler, não dá? Quando eu li a sinopse, e vi os tópicos contidos no livro eu precisei comprar. Os autores escolheram tratar dos assuntos na seguinte ordem: casamento (e não podia ser diferente, né? Já que é o tema principal dos nossos queridos romances de Jane Austen), o nascimento de bebês, a progressão deles durante a infância, o trabalho doméstico, religião, ocupações, entretenimento, viagens, doenças e, por fim, morte e funerais. Tudo isso amparados por cartas, diários, anotações de viagens, anotações de julgamentos criminais e jornais da época, por exemplo, os diários de William Holland, um clérigo de Over Stowey, Somerset, os diários do revendo James Woodforde, de Weston Longville, Norfolk, os diários de Nelly Weeton, uma governanta, cartas trocadas entre Sarah e William Wilkinson, etc. Não preciso nem dizer que tem muita informação interessante e muitas curiosidades aí né? (Se você é escritora então, é um livro imperdível… você vai terminar cheia de ideias!)

Por exemplo, Roy e Lesley Adkins abrem o capítulo destinado ao casamento com um relato do reverendo James Woodforde:

“Cavalguei até Ringland esta manhã e casei Robert Astick e Elizabeth Howlett, com uma licença… o homem estava sob custódia, a mulher esperando um filho dele. Demorou até que o homem aceitasse se casar enquanto estava no pátio da igreja, e no altar ele se comportou de uma maneira muito imprópria” (tradução livre).

E então, eles nos explicam: o crime de Robert Astick, o noivo, não foi sexo antes do casamento, mas sim fazer com que uma mulher pobre, e consequentemente seu bebê, se tornassem um fardo para a paróquia. De acordo com a lei vigente na época, mulheres grávidas e solteiras seriam levadas até o magistrado e forçadas a dizer o nome do pai do bebê, este, por sua vez, teria três opções: pagar a paróquia para que sustentasse o bebê, casar com a mulher (a não ser que fosse casado) ou ir para a cadeia. Nada romântico né?

Ah! E não posso esquecer de mencionar que Jane Austen (tanto os livros quanto suas cartas) é mencionada o tempo todo, até porque ela está no título do livro. Todo capítulo, por exemplo, começa com uma frase de Jane Austen, além de termos fragmentos de suas cartas e obras ao longo de todo o texto do livro. Para fãs da Jane, é sensacional!

Mas cuidado: se você espera aprender sobre regras de apresentação em bailes londrinos, ou quem entra primeiro em salas de jantares, sinto informar que esse não é o livro ideal (mas se quiser, o blog está cheio de artigos nesse sentido). Você vai aprender sobre coisas que você nem imaginava que gostaria de saber, por exemplo: você sabia que homens vendiam suas esposas, às vezes junto de seus filhos? Ou que as pessoas precisavam pagar impostos pela quantidade de janelas que tinham na casa? Ou que criados homens também geravam impostos aos seus empregadores? Sabem quando a primeira cesárea foi realizada? Ou como eram feitas as camisinhas naquela época? Pois bem, isso e muito mais está nesse livro maravilhoso!

Aqui nós descobrimos os requisitos para um casamento ser legal, como eram as casas das pessoas de diferentes níveis sociais, como os mais humildes trabalhavam, quais eram os preparativos para chegadas de bebês nas casas mais abastadas, como se aqueciam no inverno, como cozinhavam e o que comiam, como eram as vestimentas, algumas superstições da época, como era o natal, ano novo, enfim… eu nem consigo me lembrar de tanta coisa que eu anotei, sublinhei e sinalizei.

É tudo muito legal. Eu, por exemplo, me surpreendi ao saber que já se comemorava o dia dos namorados:

“Como hoje é dia dos namorados, muitas crianças da paróquia vieram até mim, para as quais eu dei um penny para cada, totalizando três shelings e um penny” (tradução livre).

Foi o que o reverendo James Woodforde escreveu em seu diário no dia 14 de fevereiro de 1788. Segundo os autores, em algumas datas, as crianças aproveitavam para pedir esmolas. No dia dos namorados, em específico, eles recitavam alguma música ou poema e recebiam seu prêmio. O próprio James Woodforde pedia que eles recitassem para ele.

E então a pergunta que não quer calar: vale a pena investir nesse livro? Absolutamente SIM! Eu sei que não é fácil de comprar, já que estamos no Brasil e o livro terá que vir de fora, mas se você tiver a oportunidade (e sabem que livros que compramos do exterior não são taxados quando chegam no Brasil, né?) aproveite. Quem sabe se bastante gente estiver interessada, o livro não ganha sua versão em português? Atualmente está sendo traduzido para o chinês.

Espero que tenham gostado!

Com carinho, Roberta.

P.s: Não estou conseguindo usar o photoshop para editar as imagens (quem vê eu falando isso pensa que eu sei mexer muito rs), por isso a imagem meia-boca.

Postado por: Roberta Ouriques

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