Resenha: Amor de um duque – Lorraine Heath

Editora HarperCollins Brasil, selo Harlequin, 317 páginas

No fim do ano passado, eu tive a oportunidade de ler Desejo e Escândalo, também da Lorraine Heath, que é, na verdade, o primeiro livro da série Sins for all seasons. Como eu falei no post anterior, não há qualquer indicativo, nem em Desejo e Escândalo, nem em Amor de um duque, de que eles são livros que fazem parte de uma série, mas fazem sim (dá até para comprar os dois livros em um combo), e eu devo dizer que é uma série com uma premissa excelente: os bastardos da nobreza inglesa. Tudo o que eu tinha para falar sobre o primeiro livro, o livro de Mick Trewlove, está nesse post aqui. Hoje é dia do segundo livro, protagonizado por Gillie Trewlove:

Gillie Trewlove sabe o valor da bondade de desconhecidos, já que foi abandonada ainda bebê na porta da mulher que a criou. Quando se depara com um homem sendo agredido em sua própria porta – ou melhor, no beco próximo de sua taverna –, ela não hesita em ajudá-lo. Porém, o homem é tão bonito que não pode pertencer a um lugar como Whitechapel, muito menos à cama de Gillie, na qual ele precisa ficar para se recuperar.

O duque de Thornley está tendo um péssimo dia. Ser abandonado no altar é humilhante, ser salvo de bandidos por uma mulher – ainda que uma mulher linda e corajosa – é mais ainda. Após ajudá-lo a se recuperar, Gillie concorda em acompanhá-lo pelas ruas sombrias de Londres em busca da noiva. No entanto, cada momento juntos os leva ao limite do desejo, e faz o duque repensar sua escolha a respeito do casamento. Gillie sabe que a aristocracia nunca iria aceitar uma duquesa como ela, mas Thorne está disposto a provar que nenhum obstáculo é insuperável diante do amor de um duque.

Bem, vou começar com uma confissão: quando eu vi que o segundo livro da série seria da o livro da Gillie (tem outros “irmãos bastardos” na história), eu fiquei levemente desanimada. Isso porque eu não sou muito fã das mocinhas agressivas demais e era exatamente o que Gillie, uma bastarda dona de uma taverna, parecia ser. Só que não! E, na verdade, a não ser pelo fato de eu não ser alta e esbelta, não viver no século XIX e não conhecer nenhum duque, eu me identifiquei bastante com a Gillie rs!

Ela, assim como os irmãos, não teve uma vida fácil. Começando pelo fato de que foi abandonada, ainda bebê, na casa de Ettie Trewlove – a quem Gillie considera sua mãe. Além disso, como Ettie não tinha como sustentar todas as crianças que viviam com ela, Gillie precisou trabalhar desde criança para não passar tanta fome. E, obviamente, a vida e os desafios da vida moldam as pessoas para ser o que elas são.

Quando criança, Gillie tinha os cabelos cortados e usava roupas de menino para que as pessoas não percebessem que ela era, na verdade, uma menina – o que faria com que ela corresse mais perigo ainda. Digo mais perigo porque as crianças, naquele tempo, faziam serviços absolutamente terríveis (toda vez que penso no assunto lembro de Charles Dickens, que com 12 anos, enquanto sua família estava vivendo na cadeia, precisou começar a trabalhar em uma fábrica de sapatos e isso foi algo que o atormentou durante toda a vida). Bem, já adulta, Gillie continua cortando os cabelos e escondendo, como pode, seu corpo feminino, já que, conforme eu já mencionei, Gillie é dona de uma taverna e busca inspirar respeito nos frequentadores do local.

É por causa desse respeito, inclusive, que Gillie consegue salvar Antony Coventry, duque de Thornley. Ele é atacado perto da taverna de Gillie, quando estava em Whitechapel procurando Lavinia, sua noiva que fugiu no dia do casamento deles. E Thorne realmente quer encontrar Lavinia, mais por consideração do que por qualquer outra coisa, só que seus planos sofrem um pequeno atraso em razão das facadas que levou e do tempo que precisou ficar convalescendo na casa de Gillie Trewlove:

– Está preocupado com sua reputação?
– Estou preocupado com a sua.
Surpreendida pelas palavras dele, a raiva se dissipou. Era dona de uma taverna. Sua reputação já tinha ido para o quinto dos infernos há muito tempo.
– Minha reputação não é da sua conta, e não é como se eu fosse levar uma surra.
– Você é uma mulher solteira com um homem na cama. Não posso me casar com você.
– E nem gostaria que fizesse isso, seu asno arrogante! – Levantando-se da cama, pegou a bandeja. – Durma antes que eu decida ignorar o aviso do dr. Graves de que pode sangrar até a morte e o chute para fora daqui.
(Amor de um duque, página 32, tradução de Daniela Rigon)

A gente pode imaginar que a relação deles seria naquele clichê de gato e rato, mas, ainda que eles troquem leves insultos aqui e ali rs, não é o caso. E, como acontece com Aslyn no primeiro livro, a gente consegue acompanhar Thorne enquanto muitas de suas visões do mundo são desfeitas:

– Como sabe quem está passando necessidade?
Ela deu de ombros.
– Está nos olhos. Os olhos dizem quando alguém está com fome.
Tão fixado em suas preocupações, não prestara atenção, enquanto a mulher estivera incrivelmente consciente de seu entorno, parecendo notar tudo.
– Você passou fome quando criança?
– Mais vezes do que poderia contar.
(Amor de um duque, página 95, tradução de Daniela Rigon)

Aliás, aqui vai um trecho da resenha do primeiro livro que se encaixa perfeitamente nessa daqui: “O abandono de filhos ilegítimos – os bastardos – é o carro chefe da série, por assim dizer (…) nós somos apresentados a uma prática muito cruel daquela época: homens levavam seus bastardos para que mulheres (normalmente pobres) resolvessem seus problemas. E normalmente as mulheres matavam os bebês por alguma quantia irrisória deixada pelos pais. Esse é o início da vida dos Trewlove. O assunto é trabalhado com muita leveza, mas ainda assim Lorraine Heath conseguiu inserir várias lições na história”.

O tema é trabalhado nos dois livros (e suspeito de que em todos os outros), e é legal que vamos ter a visão de todos os irmãos Trewlove, e descobrir como cada um fez para conseguir vencer na vida apesar de todas as circunstâncias serem contra isso.

Massss, voltando ao Amor de um duque, eu quero dizer que amei os dois personagens principais, Gillie e Thorne, e eu tenho certeza que todo mundo vai se apaixonar por ele durante a leitura (tudo bem que somos volúveis e, com sorte, logo nos apaixonamos pelo próximo mocinho, mas ainda assim rs). Além disso, os personagens secundários são ótimos e contribuem com a trama.

Resumindo, vale muuuito a pena, mas eu devo advertir todo mundo de que eu considero bastante importante ler Desejo e Escândalo antes de ler Amor de um duque. No mais, espero que tenham gostado da resenha 🙂

Com carinho, Roberta.

Postado por: Roberta Ouriques

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