O natal no tempo de Jane Austen – 3

Chegamos ao último post sobre o natal no tempo de Jane Austen!

Como era o último, eu queria que fosse especial, então separei alguns tópicos bem legais para abordar aqui hoje (autoras de romance de época: fiquem ligadas que muitas ideias podem surgir!). Eu resolvi, então, tratar dos seguintes tópicos (e na seguinte ordem): 1) Decoração, 2) Jantar e 3) Jogos de salão. No final, uma receita daquela época para todo mundo tentar fazer para a ceia dia 24! Vamos lá?

DECORAÇÃO

Uma das melhores coisas do natal são as luzinhas! Sim, elas queimam de um ano para o outro, são difíceis de colocar, embolam como nenhum outro material, mas mesmo assim são uma das melhores coisas do natal. É claro que durante a regência elas não existiam – a eletricidade não existia –, mas eles davam seu jeito para deixarem suas casas lindas e decoradas para essa época tão especial. A decoração, então, era basicamente feita de plantas, e as tradicionais eram: azevinho, hera, alecrim, sempre-viva, espinheiro e louro. Nas janelas, a decoração ficava por conta de galhos e guirlandas. E não posso me esquecer do visco! Sim, o visco era pendurado e os cavalheiros roubavam beijos das moças quando os dois estivessem ali embaixo, embora em algumas residências só fosse permitido nas dependências dos criados.

Árvores de natal não eram comuns – talvez para algumas famílias descendentes de alemães, que é de onde o costume surgiu. Na Inglaterra, a árvore de natal só se tornou popular depois de 1848, quando uma ilustração da árvore de natal da família real foi publicada no jornal.

JANTAR

Nos outros posts, a gente já viu que as pessoas iniciavam o dia de natal indo na igreja, mas havia também uma ceia de natal! Só que lá no início do século XIX, o prato principal não era o peru; ao invés disso, cabeça de javali com uma maça na boca ou ganso ocupavam o lugar de destaque na mesa. Mas o costume era o de servir variados tipos de carne, entre elas rosbife, pavão e cisne. Essas aves grandes eram um desafio para famílias de menor poder econômico, que não tinham uma cozinha apropriada para cozinhar/assar. Então alguns restaurantes/padarias recebiam encomendas, e as famílias passavam buscar as carnes assim que saíam da igreja na manhã de natal.

O pudim de natal também fazia parte da ceia, e vinha depois do primeiro curso (as carnes e os vegetais). A bebida durante a ceia normalmente era o vinho, mas podia ser cerveja (no caso das famílias mais humildes). Só que havia também duas bebidas que eram feitas especialmente para a festa: o ponche e o wassail. O ponche, que tinha um altíssimo teor alcoólico, era feito com rum, brandy, vinho do porto, suco de frutas, casca de frutas cítricas e açúcar). O wassail era parecido, mas levava cidra de maça, especiarias, açúcar, rum e brandy na receita, além de ser servido quente.

O negócio é que esse jantar era servido às quatro da tarde, então eu fiquei pensando… o que eles faziam no resto do dia? Se era um dia de festas e tudo mais? E descobri: jogos de salão eram bem tradicionais e estavam presentes em várias famílias. Aqui vão alguns exemplos deles:

JOGOS DE SALÃO

“Active games”: se a sala de estar fosse grande o suficiente, ou as pessoas pudessem ir para fora jogar, era um jogo que envolvia muita correria e contato físico. Como naquela época o contato físico era bem limitado, era uma ótima oportunidade para os jovens.

“Blind man’s bluff” (blefe do homem cego): nesse jogo, um jogador ficava vendado e precisava descobrir a identidade de outro jogador que pega nele ou do jogador que ele pegar. Esperava-se que os participantes roubassem nesse jogo.

“Buffy Gruffy”: Um jogador vendado fica no meio de um círculo de cadeiras, onde os outros jogadores estão sentados. O jogador com a venda anda em círculos até parar na frente de alguém. Então, o jogador vendado faz perguntas para essa pessoa, na tentativa de adivinhar quem é. A pessoa deve tentar modificar a voz, para dificultar a tarefa do jogador que está tentando adivinhar.

“Moves-All”: As cadeiras são colocadas em um círculo e um jogador fica no meio. Quando ele diz “move all” (mexam-se), todo mundo precisa trocar de cadeira. O jogador que não conseguir sentar vai para o centro.

“The Ribbon”: Um jogador, no centro, segura várias fitas, enquanto os outros pegam as pontas das fitas e ficam ao redor do jogador principal. O jogador do centro dirá “puxe” ou “largue”, mas quando ele disser “puxe” a pessoa deve largar a fita, e quando ele disser “largue” a pessoa deve puxar. Quem errar paga um castigo.

“Bobbing for apples”: Maças eram colocadas em uma grande tigela com água, de onde os jogadores precisavam tentar tirar as maças apenas com os dentes. Como as musselinas dos vestidos das mulheres, naquela época, era muito fina e ficava quase transparente quando estava molhada, podemos pensar se esse não era um dos motivos pelos quais os cavalheiros gostavam dessa brincadeira rs.

Eles também jogavam jogo da memória, charada e faziam apresentações – aqueles que tinham talento podiam tocar piano, recitar alguma poesia, interpretar alguma peça de teatro e por aí vai. Bem, sem TV e sem internet as pessoas precisavam procurar o que fazer né?

Agora, para fechar com chave de ouro esse especial sobre o natal no tempo de Jane Austen (você pode conferir os outros posts aqui e aqui), seguem duas receitas direto do século XIX:

TORTA DE BATATA

Pegue um quarto de batatas, ferva por um tempo, descasque e as amasse com o lado de trás de uma colher. Depois, passe as batatas por uma peneira. Após passar pela peneira, pegue 200g de manteira derretida e 200g de açúcar e misture bem. Depois adicione seis ovos, com clara e tudo, e misture com o restante dos ingredientes. Por fim, adicione um copo de brandy. Dá pra colocar umas 200g de groselhas também: ferva por meia-hora, misture com manteiga derretida e um copo de vinho branco, adoce com açúcar e jogue por cima.

TORTA DE OVOS E BACON PARA COMER FRIA

Deixe algumas fatias de bacon na água durante toda a noite para retirar o sal. Pela manhã, cubra o prato com as fatias de bacon. Bata oito ovos com um pouco de creme, coloque sal e pimenta, e jogue por cima do bacon. Cubra o recheio com uma massa gelada, que deve ter sido preparada um dia antes.

Espero que tenham gostado!

Com carinho, Roberta.

Fonte: A Jane Austen Christmas, livro de Maria Grace

Imagem em destaque: Pinterest

Postado por: Roberta Ouriques

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